Em castelhano, “espontâneo” é a pessoa que por paixão ou desejo de protagonismo, salta para a arena, durante uma tourada. Maria Ribot inspirou-se nesta figura, desprezada pelos aficcionados, por perturbarem a lide do toureiro, romperem as regras do jogo e acrescentarem uma desnecessária dose de risco à tourada. Os 40 “espontâneos” reunidos por La Ribot são, portanto, e à semelhança do que acontece nas touradas, “transgressores”. Ao quinto dia hão-de fazer um espectáculo que contraria as regras formais, o conformismo cénico. Serão actores, sem serem actores. ... Ao longo dos quatro dias de montagem, as indicações dadas aos “espontâneos” eram simples. Tratava-se de exercícios envolvendo o corpo, o tempo e o espaço – “memorizar”, “construir”, “desconstruir”, “correr”, “rir”, “observar”, “derreter”, “fundir-se no solo”. A aprendizagem da acção de “derreter”, “escorrendo” pelas paredes, pelos móveis e pelo corpo dos parceiro iniciou-se logo no primeiro dia; houve quem não aguentasse e desistisse. A proximidade física que o exercício implicava, teve efeitos imediatos na dinâmica do grupo. Durante esses cinco dias, os “espontâneos” memorizaram trajectos, lugares e momentos em que colocavam cada uma das seis peças de roupa que cada um tinha de recolher, vestir e despir, de maneira a poder construir, destruir e reconstruir em comum, toda uma superfície de grande colorido, numa coreografia em que a acção parecia desenrolar-se sem qualquer marcação ou ordem, num desassossego que não se confinava ao palco, antes se desenrolava fundamentalmente no espaço do público. O projecto da performer madrilena estrutura-se justamente a partir desta ausência de fronteiras entre o espaço reservado ao espectador e o espaço de cena dos actores. É neste quadro que os “espontâneos” vestem a pele de transgressores. ... Ana Contumélias in Notícias Magazine, 14/01/07
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